Vida de criança
Quando era menino pequeno, andava descalço, jogava bola na chuva, e chegava ensopado em casa e escondido, tomava banho e me secava. Gostava dessa liberdade de brincar na rua, correr a pé, andar de bicicleta e sentir aquela brisa gostosa no rosto. Gostava de ir à roça do meu tio e ao sítio do meu avô. Lá tinha alegria, fartura e divertimento.
Na roça do tio Cosme ganhava milho, melancia, mamão, ovos, verduras, fazia a feira... no sítio do vô Vicente armava arapuca; caçava lebre, codorna, tatu; subia no pé de goiaba, de manga, de abacate e chupava laranja no pé; pescava lambari... Tudo era festa, coisa da idade. Lá tinha galinha; cachorro; papagaio; gato; passarinho; cavalo; vaca; carneiro; porco; parecia a arca de Noé. Tomava banho no moinho e no Ribeirão do Rio Tigre. Era vida simples, não tinha violência, havia respeito entre as pessoas. A vida demorava passar, a gente demorava a crescer. A gente era livre e cheio de sonho passageiro.
Na escola todo mundo tinha um apelido engraçado, não tinha essa de Bullying, tudo era brincadeira de criança. Do time de perna de pau eu era o goleiro e tomava cada frango, daí me chamavam de frangueiro, e eu nem aí. Eu ia ao circo e morria de rir das brincadeiras do palhaço, ficava atento ao trapézio de balanço e ficava tenso com o globo da morte. Nas festas das nações gostava de comer em todas as barracas, tudo era delicioso; na festa junina dançava quadrilha, amava comer a maçã do amor, pipoca e geladinho e um dia, na barraca do beijo, comprei um da Suely, quase morri de tanta vergonha, foi o meu primeiro beijo.
Corria na rua, soltava pipa no morro; brincava de telefone sem fio; andava de carrinho de rolimã; jogava bets; ioiô; corre cotia; pião; esconde-esconde; taco; estilingue; bolinha de gude; amarelinha; jogo de latas; pega-pega e outros que nem me lembro agora, mas, não me esqueço do meu álbum de figurinhas da Copa de 1970, dos jogadores do tricampeonato mundial, foi um vício, uma doença, todo mundo queria montar logo o álbum, era a troca-troca de figurinhas da seleção brasileira: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Pelé e Tostão; entre outros.
Foi a época de criança feliz, não tinha malícia, todo mundo era amigo. Tenho saudade desse tempo. Tempo que se reunia a família de raiz e as famílias dos amigos. Não tinha esse negócio de divisão de classe social. Não existia preconceito, racismo; todo mundo era igual. Vida que não volta mais. Era tempo de esperança, de alegria e vida de criança.