Vem e demora
Não é na minha cama que sobra espaço
Eu passeio nela, a noite toda, sem parar
Até que esteja toda ocupada
E ela até mesmo ache que estou a sonhar
Também não é o travesseiro jogado
Que se sente preterido ao que minha cabeça escora
Enquanto sobre um eu me deito
O outro me encontra pela noite, sem demora.
Meu sofá tem um programa favorito
Já que ligo a tv e o deixo sozinho na sala de estar
As almofadas não se importam se você não as amassam
Ou se sobre elas suas pernas vão ficar.
A toalha branca pendurada no banheiro
Te esperou alguns dias, seu cheiro nela já não está
O sabonete se contenta em lavar meu corpo
Já que o seu há um tempo deixou de encontrar.
Nada aqui sente a sua falta
Pelo visto, tudo já se adaptou
Eu nem sei porque estou escrevendo isso
Se nem meu coração de você mais falou
Tá, eu sei, meus disfarces são ruins
Tudo aqui sente sua ausência
Já falei pra cama se acalmar
E pro travesseiro curar essa dependência
Expliquei pro sofá que ele precisa entender
Que as almofadas serão sua companhia
E que aquele seu programa de tv
Estará ligado no mesmo horário todo o dia
A sua toalha eu já convenci
Ficará guardada como tem que ser
E o sabonete se contenta por hora
Em meu corpo se derreter
Eu passo o dia fugindo dessas perguntas
Pra não ter que explicar o motivo toda hora
Não que eu te queira pra sempre comigo
É a casa que se entristece quando você vai embora.
[Da próxima, vem e demora]