Mão no Coração
Eu tentei dormir,
Fechar meus olhos por breves momentos,
Não conseguia descansar e nem sorrir,
Meus ânimos estavam sedentos.
Olhei pela janela,
Tampouco achei os sons que me estranhavam,
Poderia ser a avareza de uma noite bela,
Eram meus pensamentos que me atormentavam.
Abri a porta, andei descalço,
Parecia estar pisando em falso,
Naquele asfalto gelado da madrugada,
Havendo tudo, não havia nada.
Ecoavam mentalmente pedidos sinceros,
Destes que se comparam a ecos externos,
Ruídos brandiam janela adentro,
Qual o motivo desse entristecimento?
Joguei meu corpo e seu peso contra a cama,
O lençol bagunçado por um momento,
Ajeitei a cabeça no travesseiro frio,
Subiu-me o calafrio.
Fechei os olhos, mas até a escuridão estava clara,
Minha realidade estava falha,
Não enxergava por causa de lágrimas,
Aquela coberta parecia uma mortalha.
Tentei controlar a respiração,
Meu peito ofegava em atenção,
Tentei colher com as mãos,
A pele de alguém amável.
Joguei a franja para trás,
Querendo enxergar em breu,
Era tarde demais,
No meu coração, escureceu.
Novamente concentrei em dormir,
Mas eu não conseguia ir,
Era uma insônia diferente das outras,
As anteriores eram poucas.
Esta, me fazia desperto,
De certo,
Me incomodava a sensatez,
Seria solidão dessa vez?
Tentei dormir com a mão no coração,
Mas nele tocava a nossa música,
Não era a minha intenção,
Nem mesmo era dor acústica.
Tentei dormir com a mão no coração,
Mas ele martelava como pregos no caixão,
Eram vidros despedaçados,
Instrumentos desafinados.
Tentei dormir com a mão no coração,
Mas era o único som que eu ouvia em meu quarto,
A falta de adesão,
Chorava no travesseiro como trabalho de parto.
Eu tentei dormir com a mão no coração,
Mas ele sincronizada com a culpa em minha mente,
Poderia pessoa tão carente,
Sentir-se imerso na solidão?
Tenho mentido para mim mesmo,
Mesmo que seja em anos atrás,
Não voltando nunca mais,
Já não sou como antes.
Talvez o coração endurecido,
Mesmo que anos pós, amolecido,
Sinta remorso ou até arrependimento,
De uma vida não vivida a todo momento.
Dói, dói demais, sentir que não completou objetivamente,
Qualquer coisa que tenha tido em mente,
Porém, eu vivo, mesmo arrependido,
Melhor, do que não ter vivido.
Poderia eu, em dilúvio,
Querer voltar para aquele tempo viúvo,
Reconhecer a criança interior,
Preencher lacunas com o próprio amor.
Duro é o passado sofrido,
Mas o futuro é um amante sorrido,
Pasmo é a alma caridosa quando ele se encontra,
E o medo, ele afronta.
Amargamente, sigo em frente,
Pois, obscuro é o futuro do pecador,
Mas, mesmo engrandecido pelo pecado,
O futuro é sensato,
Ele existe e é crucial,
Pela cruz que reduz qualquer mortal.