Poema para Vitória.

Antes, ainda ontem, amanheceu

Era manhã de um dia assim

Como outro qualquer

Não sei como não passou por mim

Sequer um pensamento

Um avião que decolasse

A árvore da montanha no caminho

Um dia assim, de uma manhã tão linda

De uma tarde que não tem fim

Nuvem cinza de novembro

O Sol se vai, o dia perde o viço, a graça

Não sei como não passou por mim

Sequer um pensamento acerca disso

O barco que partisse, a atravessar o rio

Um avião que decolasse

A árvore da montanha no caminho

A vontade que não era a nossa

Mas a gente a obedece e se cala

Ainda ontem

Um amanhecer qualquer, não era

Era o cair da noite ao meio-dia

Um beijo vem, desceu do véu da tarde

Agora ela dorme a primeira manhã

Todo mundo vai cantar pra ela

Guardando assim, pra sempre

A lembrança da manhã tão bela

Que não era e não finda

E que aconchega a alma, a espera

Não sei como não passou por mim

A palavra que vem no vento

Agora, por breve momento, ouvi

De leve, um cantar de passarinho

À sombra da árvore

Onde há uma orquídea nova

Ela vive ali, agora

Então, a gente vai cantar pra ela

Pra que a brisa leve assim

Nosso cantar, embora de leve

e baixinho que é

Que é para não acordá-la.

Edson Ricardo Paiva.