Idos tempos
Idos tempos vão e voltam,
indo e vindo do meu Junco,
cortando cascalho pra Feira,
pela estrada de Biritinga,
na cintura da ladeira,
antes da Barroca D'anta,
na primeira bifurcação,
depois do antigo Cruzeiro,
na saída pra o Riachão,
reparando direito à esquerda,
na terra resiste um clarão,
um pé de figo guerreiro,
quando a seca bate no chão,
lá um portal invisível,
me leva de volta no tempo,
pro meu tempo de menino,
naquele pequeno rincão,
chego à ouvir seu Adelino,
histórias de assombração,
sob a luz dos candeeiros,
nas noites de São João...
Fecho os olhos ainda vejo,
meu mundo de imaginários,
minha fazenda de gado,
minha morada no meio,
quatro cavalos baios,
Pé-de-vento e Crista-linda,
brincando com Relampeio,
Vassourinha o preferido,
vou chegando no arreio...
Espora, forquilha de graveto,
açoite e chapéu na mão,
serpenteando as malícias,
perneiras de papelão,
correndo solto no orvalho,
pulando por cima de galho,
velame e jurubeba,
carrapicho e cansanção...
Fecho os olhos e me vejo,
naquele moleque vagueio,
que sonhava ser vaqueiro,
encangado no umbuzeiro,
admirando entre a folhagem,
a casa branca no meio,
via o deposito e a venda,
na entrada da fazenda,
fazendo parede-meia...
Me lembro que ainda tinha,
entre as sacas de feijão,
os silos de milho e farinha,
a professora Teresinha,
ali mesmo improvisado,
ensinava do seu jeito...
Entre a lida e a escola,
nem lembro se eu tive bola,
só lembro de manhãzinha,
já tava aprumado no eito,
café nos peito com farinha,
milho aos porcos e galinhas,
leite quente no curral,
entre uma tarefa e outra,
fui aprendendo o beabá...
Fecho os olhos ainda vejo,
o velho fazendo gracejo,
o tanque velho na baixada,
a cerca de roupa quarada,
à sombra da baraúna,
as revoadas de anum-preto,
o canto dos bem-te-vis,
as trovadas da graúna...
Na passagem do caminho,
o velho curral de candeia,
uma rês apeada no meio...
Olhando ladeira acima,
avisto a nossa figueira,
onde fazíamos abrigo,
balanços e brincadeiras,
que embalaram nossa infância,
naquelas tardes fagueiras...
Lembro da casa branca,
lembrança que jaz distante,
descansada ao pé da colina,
na lembrança dos viajantes,
só a marca que ali assina,
no chão batido do terreiro,
os sonhos do meu avô,
minha avó e seus caqueiros,
suas rezas e as novenas,
a lembrança dos primos e primas,
e as tardes no umbuzeiro.