Saudade
É um tempo que só existe em minhas lembranças
De quando várias libélulas, pousavam, belas, nos varais do terreiro
E doce era o cheiro de minha avó aguando as plantas do canteiro
E o pé de laranja mimo, cheio, e o pai mimando sua criança
Tempo esse em que havia menos gafanhoto e mais esperança
Em que as fábulas resistiam às fábricas e suas poluições
Que a tecnologia não impedia as crianças de rodar seus piões
E por onde se andava havia gente encantada
E a criançada brincava com a terra molhada
Enquantos os mais velhos acendiam seus lampiões...
Naquele tempo meu pai criara uma sabiá (en)cantadora
E eu pensara que era encanto o que ela cantava
Hoje, mais sabido, sei que não era canto, sim lástima
A gaiola no pé de goiaba; meu velho cuidando da lavoura
Enquanto minha vó passeava pela casa farfalhando sua vassoura
Mas o que sucedera às libélulas, laranjeira, goiabeira e sabiá?
Onde foi parar a vassoura que minha velha costumava empunhar?
Que fim levou as plantas, as danças, as fábulas e os lampiões?
E cadê a terra molhada, esperança, os mimos e as paixões?
Olhe nos meus olhos e me conte a verdade.
Estão brilhando no canto do teu ébrio olhar...
Estão beijando teu rosto com gosto de bar...
Mar
Sal... são salgadas lágrimas de saudade
Dum doce tempo que não volta mais...