No quarto da saudade
É noite, bate o vento na janela,
Estremece o canto do peito,
Me viro na cama, vou pro sofá,
Seu gosto que fica, perfeito,
Cerro os olhos, cantarolo baixinho,
Aqui, nosso canto, um ninho,
Promessas de amor ainda rebatem,
Ecoam pelos cantos, viram a rede,
Ainda estremecem as paredes,
Tapo os ouvidos, e de repente grito,
No espelho ainda um bilhete,
Deixado, grudado, meu lembrete,
A saudade então me alcança,
Coração dispara, desce suor de lembrança,
Esfrego meus pés com meia, luz já me clareia,
Luz que chega pela janela da nossa lua,
Lá do alto negro e infinito da rua,
Pelejam minhas lembranças fartas,
Do seu toque, cheiro, da pele nua,
O suor da lembrança agora é saudade que espanca,
Acordo nas manhãs e ainda me juro,
Com nosso cheiro, nosso gosto, gozo noturno,
Iludido que quando abrir os olhos estará lá,
Deita no te terço da cama, agora taciturno,
A realidade que me matou ao dormir, mata-me novamente,
Assim que meus olhos abrir,
E as mentiras sinceras já não me convencem,
Sobrevivo aos poucos, sem os cinco sentidos,
Já não sinto nada, não sou nada, não quero lutar,
Lembro dela dia e noite, sem parar,
E continuo assim, por eternos segundos, enquanto conseguir respirar.