CHUVA E SAUDADE
(Sócrates Di Lima)
O vento entre trovões rumina,
Feito animal feroz,
Em furor se descortina,
No deserto, sem voz.
Sopra velozmente,
Como se empurrando a janela,
Assolando minha mente,
Na saudade em sentinela.
O céu misturado,
Em nuvens mescladas,
O azul repintado,
Em cores brancas e acinzentadas.
Então, a saudade é sugada.
Como a chuva que chega de repente,
O céu se transforma e a alma é lavada,
Como choro sucumbido o coração que sente.
Vontades que chegam da mulher amada.
Saudades chegadas de um amor recente,
E que o tempo ejacula o seu lamento,
No gozo intrépido que a saudade inventa,
pelas entranhas do pensamento.
Derrama o céu rios de saudades,
Que fertiliza as terras do coração,
Enchem os lagos da alma de ansiedades,
Da chuva de sonhos que faz ilusão.
Uma saudade de repente,
Que vem ali de algum lugar,
Uma mulher que traga-me a saudade quente,
Quebrando ventos vem me buscar.
De tudo que vem do céu,
vem também uma doce saudade,
Descortilhada e sem véu,
Na delicia que invade,
Como sabor de chuva que decanta o céu.