SEIS ANOS
Quando agosto se foi levou com ele seus ventos cruzados de ásperas cantigas.
Veio setembro, brisas mornas, prenúncios de primavera: os primeiros verdores, tímidos botões.
Quem imaginaria que o anjo da morte trilhava com seus passos surdos aquelas cálidas veredas trazendo o seu recado, que era o de cessar o fluxo da vida, interromper o esboçar de todos os planos, silenciar o discurso, deter os gestos; atravessar o limiar sombrio do insondável...
Chegou sem procrastinar sua amarga missão; sem alternativas, eternizou a ausência, aplicando o sinete do definitivo.
Seis anos se passaram desde aquele setembro amargo.
A saudade pousa sobre mim afagando-me com suas asas diáfanas; desperta lembranças plácidas e consoladoras: as trocas do cotidiano, a paciência arduamente exercida, o silêncio compartilhado; embora subsista a inconsolada dor da inexistência de uma palavra de adeus jamais dita.
14/setembro/2020
ais