A sombra mortífera de um amor distante
No silêncio teu corpo escorre sem forma tangível.
Teu molde etéreo, tão incorpóreo, flagela o sossego em uma deformidade escura e pastosa.
Tu és a sombra do meu miocárdio.
E no escuro dissemina teu corpo pelo cômodo,
Mesclando-se a ele, suave e impenetrável.
Teu amor é a anatomia de tudo,
Das sombras que me apagam no hálito noturno.
Tua forma intocável abraça os espaços que abrigam meus olhos.
Na pulsação das estrelas,
fito o brilho do passado entrelaçado.
Sinto minhas paredes acelerarem.
Tu aqui não estás,
Mas tua falta de forma materializa-se nos canteiros que cercam-me.
O vácuo espacial da saudade possui uma estranha deformidade
que espalha-se e enrola-se no tempo.
Sou ocupada como um cômodo vazio
Uma engenharia espasmódica,
que tremula com a presença involuntária de um ser distante,
Tu mesmo, a criatura que vaga sem tua sombra, pois ela é meu anoitecer.
É rastro dos teus movimentos fossilizados em minhas memórias.
O belo e imperturbável escuro desponta a presença do ausente, trazendo pedaços teus.
O eclipse encobre o cômodo funesto em forma de crânio.
Meu cérebro é tomado pela beleza da noite plácida.
O amor transmorfo ocupa os sentidos, como os móveis da alma.
Fui eu que roubei a sombra de alguém;
fiquei com o molde de um corpo que vive distante do meu, e mesmo assim, anoitece sobre todos os corpos da terra.