Naquela Noite Sem Vento
Agora lembro dos nossos sonhos
cantados em poemas, meus e seus,
numa rima casada onde só o
amor encontra lugar.
De nós, só sei o que ficou
dos trens e dos trilhos percorridos,
das partidas e chegadas nas estações
repletas daqueles solitários viajantes
com quem nos misturávamos, e ríamos.
De Dijon à Roma, a cabine dupla
onde nos entregamos ao vinho,
no calor de uma noite sem vento,
vem me lembrar um pouco de você.
Éramos um só corpo, éramos uno.
Hoje nem a mais veloz das aves, ou
máquina construída pelo homem,
conseguiria encurtar a distância
existente entre nós. Não mais.
Juntos percorríamos caminhos povoados
de imensurável ternura. Então a poeira
a tudo encobriu, nossos olhos já não
viam a beleza das estradas por onde
o amor passeou, e nossa poesia esvaneceu.
Os vagões, nossas casas por tanto tempo,
estão agora parados nos trilhos da saudade...