Ambição...


Quanto de mim há nas mãos
que falam, ditam hoje os atos
de antes, deliciosos tatos,
o afago, a presa, o enlace.
Quanto de mim rolam nos dedos,
toques sinfônicos em pianolas,
nênias, quase esmolas
pedidas, buscadas, recebidas.
Quanto há na mão que se cala,
na lâmina afiada que resvala,
no sangue suado que jorra,
pinga, grita, impaca
o afeto para ofegante saudade
da hora roubada que rompeu,
colheu no silêncio o virgem descuido.
Então fiquei só.
Quantas mãos passaram nesta mão,
não marcaram como as suas,
claras, ávidas, nuas,
furtivas de segredos
no falar de paixão.
Furtivas em seus enredos
no calor da emoção.
Ah, quantas saudades minha mão vazia
inventa em irreverentes traços,
atraiçoando a existência,
cobiçando dia a dia
o encontro eterno, mesmo que para isso,
não haja outra, senão a razão de morrer.