Continuísmo

Não há lugar antes pisado
que não haja, um quê da presença,
um toque de você, mesmo na ausência.
São lugares que por cá desfilam
no segundo mágico do pensamento.
São edições épicas da nossa história,
nossa na palavra, minha na rotina,
no momento a momento que trago
pendente no peito o vapor das perguntas,
onde as respostas estão em cada minuto,
que formam os dias que seguem,
cumprindo o calendário,
esquecendo-se de marcar o estuário,
quando e onde há de acontecer.
São fúteis as palavras, bem se lê
no contexto da poesia que se chama,
cada lugar pisado por você,
ou algo tocado, feito por mãos,
que ontem, bem ontem negaram as minhas.
É o desencontro no fim do atalho.
A estrada foi curta, mal delineada,
trocada em um projeto que não entendo,
onde pouco ambicioso, não lutei,
não busquei o combate.
Hoje, sempre hoje,
talvez se vir o amanhã será tão forte,
rochoso de ser dobrado, mais um látego,
uma chicotada que a vida devolve no rosto.
Há apenas uma esperança crua.
Saber que tudo será vencido
na derrota final sob a gargalhada,
de tudo que continua, prossegue… A vida.