Resquício


Meus olhos não perceberam,
nem sequer a percepção leve os tocou
no sentido de opção que se punha à mostra,
vestir ou não, a chuva da saudade.
Sob a neblina eles pararam,
expostos aos desacertos,
ao mecanismo infalível,
a fuga que se colocava à postos,
pronto a servir mais um,
apenas mais um entre tantos,
que descobrem a passarela covarde,
o caminho derradeiro ao derrotado.
Mas meus olhos não notaram, sorriam,
passeando, circulando em órbitas
buscavam em cada canto,
a reformulação, a causa exata,
coisas que a vida não fala, esquece, não relata.
E quando veio a hora,
a credibilidade se foi no conjunto,
na raspa que ficou da fé.
Fui pelo rumo, de olhos vedados,
nos segredos que chorei,
na saudade que escrevi,
na pena que pendeu da mão
quando a dor foi posta em papel.
Mas, ainda falo do ontem,
catando cada segundo que hão de formar,
conquistar um amanhã,
amargo mistério de uma vida,
que se sobressalta em pensar que pode,
que talvez possa desvendá-lo.