Estupidez

Aquele curto circuito de pelos,
o encontro da epiderme,
o zelo.
Aquela febre de desejo,
o beijo,
o longo abraço da saudade
que abraçou o tempo
e repousou no longo verão,
que deixou a chuva molhar,
semear lágrimas no agreste,
no plantio que ela deixou,
na colheita que se perdeu,
na razão que a vida criou.
E quando a hora chegar,
que o escuro ficar,
sei que tenho que ir embora,
sei que não levo, nem deixo nada.
É cruel pensar que há um vazio,
uma vaga que fica pura,
sem um segredo,
algo que transpareça,
que pudesse denotar que alguém,
uma grata pessoa, passou por ali,
quem sabe por perto daqui.
Mas não, nada fica.
Fui infrutífero passo e hei de chegar ao fim,
sem que uma marca fique.
É quase que uma estupidez
aguardar a hora, a vez,
se já é tempo de enfrentar,
ao menos travar a última batalha,
para ver a derrota de pé
e só rir, nada mais que só rir,
o sorriso do gosto final.