Visualizar-te

Ver-te nua sob os anseios azuis,
este vertiginoso olhar que excita,
faz com que a boca se cale,
enquanto a mão insegura hesita
ao toque final.
Ver-te, sempre ver-te
sem querer ou por saber que és minha,
resguardada nos eróticos sonhos
confiáveis, apenas ao código,
ao programa exposto na mente.
Ver-te, somente ver-te
criar sempre o minuto seguinte,
sem deixar que saibas.
É, sempre o será uma forma esquiva
de omissão, de segregar a presença
para uma eterna ausência
que virá, mesmo que nunca venhas,
nunca fiques exposta,
para logo em seguida deposta
pelo mundo imaginário de sonhos.
Ver-te apenas, já é viver;
poder recrutar o visto ou todo instante,
deixar que o pensamento fraco
traga à pele o calor, o frio, o desejo,
mesmo sem ter sentido.
É doce e vislumbrante saborear,
distribuir pelo corpo o mel,
mesmo que só haja saudade
daquela louca vontade,
de por apenas um toque,
ver pele na pele e colar, calar
para não proferir o grito
daqueles que apenas sonham.
Sonham quase sempre de olhos abertos,
abertos para a vida, fechados para a realidade.