Lampejos

Verdes como os verdes das folhas
na estampa dos seus olhos,
na tela sem moldura.
Azuis, como azuis dos lençóis
nos vitrôs laminados das janelas
dos quartos sem paredes,
no fundo da alma em saudade.
Cores, tal eram as cores,
colorindo o desbotado acanhado
na timidez dos amores,
que brincavam na roda do desengano.
Matizes que trocavam frente a tarde,
despindo-se na incredulidade,
desabrochando toda sensualidade
que a noite haveria de vestir
entre paredes, entre braços,
nos arrufos dos abraços,
na cortesia que o corpo oferecia,
enquanto foi rebelde a posse
que desfez-se em despedida
na meiga, pura despida,
réprobo no cansaço, a última vela,
de chama, fogo, de pano branco,
para insurgir no mar azul.
Ilusão, como foi de ilusão
cada pequenino botão
que se abria ao florescer,
já no limiar do tempo que vencia,
na amostra pequena que se mostra,
no raiar que o cabelo pinta,
no mais puro branco que a redoma guarda,
quando a chama do fogo está para se apagar,
no último aceno do pano branco.