Pudor

Primeiro a sandália, solta, largada.
Os pés tocaram o tapete azul.
O céu parecia estar no chão.
Você foi estrela e brilhou.
Depois lentamente a blusa
devassando o belo,
revelando o eterno ao beijo,
ao calor que aflorou queimando a pele.
Sem querer o “jeans” se trancou.
Desbotado, manchou-se envergonhado,
mas sucumbiu e rolou sobre o segundo,
aguardando sua hora.
As inevitáveis pernas queriam o olhar,
o dom da posse, a insegurança,
o desabrochar na cama...
era a primeira vez!
Então a peça transparente, fina,
cedeu ao show e mergulhou no mar azul.
Você foi sereia e bailou nas águas.
Foi uma dança completa,
afeita, receita repleta,
pedaço de sinfonia, um todo de “blue”.
E naquele nu,
a nudez se vestia de poesia
decantando o singelo.
Na entrega, a súplica, o belo,
um único anseio na presença do tempo.
Ver estática a esfera que gira,
ver o minuto morrer
para nascer uma luz diferente,
uma algema brilhante
para reter, conservar o pouco duradouro.
Ah, só que fomos irônicos
sem querer ou saber o que queríamos.
Houve um pacto de fuga.
Tive que mergulhar no azul dos seus olhos
para afogar tudo que a lembrança,
o pensamento, nunca hão de esquecer.