sementes da discórdia

não posso viver assim

morrer também seria indigno

estou numa encruzilhada

há um bemol sincopado

há uma partitura partida

ao meio

e tudo que me resta,

é uma melodia

monocórdica,

monossílaba

esse mar de incertezas

diante dos olhos,

um cisco,

um corisco

um verso

só lá tenho salvação possível

nesse verso,

no anverso virado de mim mesmo,

no revés de mão-dupla

esse riso irônico

travado

malvado

violando gradativamente meus tímpanos

o agudo perfurante de meus ossos

que doem até os dentes.

não posso viver assim

não me conformo

não aceito

não aborto a genética

eu juro que

não comecei o apocalipse

que nem fiz parte dessa

elipse que não fecha

o ciclo que não acaba

ou me acaba?

porque tanto conflito?

palavras se degladiam dentro de mim

e sai semântica pelos poros

me deixando absorta

absurda

e sem sentido

não há poder

não há poderosos

o que existe é somente

marionetes adestrados, permissivos

e subservientes

que se comportam como capachos

inverossímeis

não se humilhe mais

não vê que é um cadáver

que está morto

e cujo aceno derradeiro

foi plantar aos invés de sementes,

discórdias

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/10/2007
Código do texto: T700097
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