sementes da discórdia
não posso viver assim
morrer também seria indigno
estou numa encruzilhada
há um bemol sincopado
há uma partitura partida
ao meio
e tudo que me resta,
é uma melodia
monocórdica,
monossílaba
esse mar de incertezas
diante dos olhos,
um cisco,
um corisco
um verso
só lá tenho salvação possível
nesse verso,
no anverso virado de mim mesmo,
no revés de mão-dupla
esse riso irônico
travado
malvado
violando gradativamente meus tímpanos
o agudo perfurante de meus ossos
que doem até os dentes.
não posso viver assim
não me conformo
não aceito
não aborto a genética
eu juro que
não comecei o apocalipse
que nem fiz parte dessa
elipse que não fecha
o ciclo que não acaba
ou me acaba?
porque tanto conflito?
palavras se degladiam dentro de mim
e sai semântica pelos poros
me deixando absorta
absurda
e sem sentido
não há poder
não há poderosos
o que existe é somente
marionetes adestrados, permissivos
e subservientes
que se comportam como capachos
inverossímeis
não se humilhe mais
não vê que é um cadáver
que está morto
e cujo aceno derradeiro
foi plantar aos invés de sementes,
discórdias