AS LEMBRANÇAS
Na terra dos meus pais,
Sertão de Minas Gerais
Que começou meu viver.
Numa noite de festa
Na borda lá da floresta
Foi feliz o meu nascer;
Numa velha casinha
Toda branquinha
E coberta de sapé;
Rodeada de plantação,
Arroz, milho, feijão
E muitos pés de café.
Meu pai era roceiro
Trabalhava o dia inteiro
Com muita satisfação.
Foi nessa dura lida
Que ele ganhou a vida
Sempre lavrando o chão.
Comprou a sua terra
Que ia até a serra
E formou uma pastagem.
Pra melhorar seu deleite
Comprou as vacas de leite
Com toda fé e coragem.
Perto da velha palhoça
Plantou um trecho de roça
Com muita dedicação.
No manejo da enxada
Fez sua mão calejada
Ao lavrar o duro chão.
Caminhando entre arvoredos
Saia de manhã bem cedo
Contemplando o arrebol.
Sem ter nenhum parceiro
Trabalhava o dia inteiro
Do nascer ao por do sol.
Eu era inda criança
Todo cheio de esperança
Cuidava do meu irmão.
Corria pr'aqueles matos,
Enfrentava os carrapatos
Pra armar um alçapão,
Pra caçar os passarinhos,
Indefeso, os coitadinhos,
Não fugiam da minha mão.
Nas tardes de sol quente,
A gente pisava contente
Descalço naquele chão.
Naquela vida discreta
Adquiri o dom de poeta
E comecei a escrever.
Descrevi a natureza,
Do sertão toda beleza
Que nele pode haver.
Também a casa caipira
Amarrada com embira
Com telhado de sapé,
Onde o prazer era tanto,
Fogão de lenha no canto
E um bulinho de café.
Nas veredas do campo,
O piscar do pirilampo
Nas noites de verão.
E a família reunida
Nos prazeres da vida
Ao redor do fogão.
No aconchego da cozinha,
A comida quentinha,
Um virado de feijão
E a carne preparada.
Não faltava mais nada,
Pra nossa refeição.
Era simples nossa vida,
Junto da mamãe querida,
Do papai e dos irmãos,
No recanto de felicidade,
Bem distante da cidade
Naquele ermo sertão,
No estado das Minas,
Onde a água cristalina
Sai do seio do chão.
Na nossa velha morada
Não existe mais nada,
Entristece o coração.
Vejo a marca do passado
No meu rosto enrugado,
Não se pode mais voltar.
Na mente as lembranças.
Do tempo de criança
Começo a recordar.
É tão dura a realidade!
Já foram para a eternidade
Os meus queridos pais.
Mudei-me aqui na cidade,
E no recanto da felicidade
Não voltei nunca mais.
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