LUZES DA RIBALTA ACESAS
Meus olhos se maravilham
Com as cenas de um mundo sem cores;
Do passado de gozo, as cinzas,
Das lembranças da vida, as dores,
De Calvero um talento esquecido.
Quem é Calvero agora?
Quem ele havia sido?
Os cabelos mais alvos que nunca
O rosto sem pintura, envelhecido.
Com o tempo perdeu-se Calvero
Os bons cavalheiros que iam assisti-lo,
Acompanhados de suas damas,
Preferiam poupar-se de vê-lo.
Um show espetacular de pulgas
Calvero incrivelmente as domava
Um pulo dali, outro daqui
E o tempo levou as risadas.
Ou o público com nada mais ria
Ou Calvero perdia a graça
Nas coisas que sempre fazia.
Só mais triste que o seu fim
Parecia o fim da bailarina
Por não mover mais as pernas
Lhe restou desgosto pela vida!
Que encontro mais angustiante
Um Calvero esquecido no tempo
E uma bailarina sem movimento.
Recolhida pelas mãos do homem
Acolhida no quarto de sua casa
Também no ânimo das palavras
Que não desistisse da vida!
Ora, Calvero era quem dizia
Tendo já quase esperança em nada.
Sonhou que estava no palco,
De volta, junto com ela,
O velho Calvero e a linda bailarina
E não pareceu imaginação tola
Senão uma coisa boa
Perante ambas as tristezas.
Luzes da ribalta acesas!
A bailarina regressa ao palco
Luzes da ribalta acesas!
Ao lhe acompanhar, um palhaço?
De Calvero, um talento esquecido.
Quem era Calvero?
Quem havia sido?
Que importa os risos?
Se com as fraquezas das pernas da bailarina
Morreu também as ambas tristezas
Luzes da ribalta acesas!
Se reiniciam num grande teatro
Luzes da ribalta acesas!
Para a bailarina e o palhaço?
Calvero se foi, sem risos, sem aplausos
Calvero, um talento esquecido
Nas cinzas do passado.
Luzes da ribalta acesas!
Não se apagam no espetáculo
Luzes da ribalta acesas!
Os cavalheiros acompanhados
Para verem a bailarina
A pouparem-se de Calvero
Para onde ele havia ido?
E por que não queriam vê-lo?
Só depois ele ressurgiu, cômico, no palco
O público o amou e riu,
Lembrando-se dos espetáculos.
Luzes da ribalta acesas!
Parou no tempo, mas se recompôs
Luzes da ribalta acesas!
Da bailarina, o que vem depois?
Vê-se o velho Calvero contente
A exaltar seu ar de graça
Até que ela tornou-se a própria desgraça.
Ao fim de todo o espetáculo
Calvero estava ferido
O que ele havia feito?
O que havia ocorrido?
Desfalecia ali seu coração
O último pulsar no peito.
Mas o que importa são os risos
A confrontarem ambas as tristezas
Luzes da ribalta apagadas?
Não, que continuem acesas!
As luzes da ribalta
As luzes da ribalta.