Ser Híbrido

Me misturo aos espíritos desencarnados

Ouço tudo o que a noite pode trazer

E febril sigo, sem conseguir entender

Porque sou contornada por fantasmas atordoados

Talvez eu seja humano, além do que deveria ser

E questiono a ironia de eu ser essa criatura

De nem parecer ser de carne e ossos e loucura

Que vida é esta que vivo mesmo depois de morrer?

Aguardo o declínio crepuscular, até vir a aurora

Na esperança de por fim encontrar a cura

Para esse ferimento, já findou as ataduras

Depois que as recolhi no espaço da natureza morta

Quisera não sentir, ah, se eu não soubesse recordar

Não estaria em interna decomposição no peito

E essa dor que me recolheu neste frívolo leito

Não me envolveria, intensamente a me açoitar

Há um amor tão afiado, como uma lâmina de vidro

Cravado incisivamente em minhas entranhas

E das sombras surge uma senhora, estranha

Confundindo o que é morto e o que é vivo.

Foi o amor que me envolveu nessa façanha

Me tornando esse ser híbrido de dois mundos

Vivo para sentir esse amor, negando o túmulo

O amor que me mata é o mesmo que me mantém viva

E a morte é quem morreu, nessa barganha.