Outono


É um baile sutil, generoso,
a caneta bamboleia pelas letras,
falseia nos vocábulos,
suspira nas vírgulas,
repousa nos pontos.
Rodopia intensamente nas pautas,
passo a passo segue a mente,
incansável, bailando,
dançando,
frustrando a poesia
ironicamente rebuscada,
transladada,
lida,
cortejada por olhos
que antes, bem antes dos finais
bailavam nos meus.
Falo dos seus,
os mesmos que furtivamente
fizeram este baile,
festas dos nossos sonhos,
festas arbitrárias
que foram contrárias
as leis, as convenções.
Mas, a caneta segue,
escreve, dança, tropeça,
se lança...
Até que se cala
pelo fim da pauta,
da última folha seca
que o outono deixou cair,
quase, junto comigo.