O Recife que está em mim.

Recife.

Um ponto final no nome,

não é fim em si mesmo,

mas resumo que esconde

toda uma miríade de imagens

que se misturam aos montes.

Recife.

Que nunca teve a magia

dos poetas antigos

que aprendi a gostar

de tanto ler livros.

Era apenas a cidade

que dia e noite se vivia

num cotidiano sem fim

traçado em cada esquina.

Recife.

Não era cidade poética,

os seus noticiários denunciam

o seu quê de cidade grande,

mistura de inferno e paraíso,

que se abre ao litoral

traçado pelos edifícios

do Pina e de Boa Viagem

mas que à beira dos rios

e nos altos e morros

há um outro outro Recife

que não é só praia

mas que sobrexiste.

Recife.

O meu próprio era a Campina.

Bairro pequeno, fronteiriço,

quase entrando dentro de Olinda.

E dentro dele, uma rua

Chamada a "dos peixinhos".

Era lá, perdida entre tantas ruas,

que ocorria o que chamamos vida.

Normal, sem graça, cotidiana

dia a dia, com os amigos e conhecidos.

Sem grandes emoções ou nuances

mas tão verdadeiro, porque existia.

Recife.

Como lugar e memória.

De nomes como uma lista

de coisas normais, pequenas,

mas que tanto significam.

Parentes, lugares, eventos,

conversas, confusões, amigos.

Recife que não é frevo, maracatu,

é só a cidade real, sensível.

Recife.

Quando eu tornar à vê-la,

me será só de visita?

Será que vou querê-la alheia

como apenas cidade turística?

Com turísticas ruas, bairros

e turísticos amigos?

Será o Recife que era meu

ou um Recife paulista?

Tornarei a banhar-me duas vezes

nas águas desse rio?

Recife que agora é geográfica,

Recife que agora é memória,

Recife que ainda é permanência.

Recife que é perto no distante.

O Recife que em mim existe.