LEMBRO-ME DOS PLÁTANOS

E assim passavam as tardes

As velhas tardes da minha infância triste...

Tardes de inverno... de sol morno e pálido!

Tardes com cheiro de café novo

e fatias de pão com açúcar e ovo...

Tardes infantis de casarão vazio...

Vazio...! e eu só!

completamente só...

correndo pela casa com alegria tola

de criança mimada...

Tardes em que o vento uivava baixinho,

nos fios elétricos das ruas...

Tardes de árvores secas e esguias...

e cheiro de fogareiro “primus”

e cores de arco-íris...

Lembro-me dos Plátanos

Pobres Plátanos... solitários

nas ruas úmidas e frias...

Tardes de sonho

olhando com tristeza, na vidraça

os passarinhos piando na folhagem:

– Bem-te-vi! Bem-te-vi...!

Pobres avezinhas, no frio e na chuva fininha,

transidas de fome e susto...

Lembro-me dos Plátanos...

Pobres Plátanos!

Sou como as aves que voam

pelo mundo

buscando, buscando...

e penso e lembro e sonho...

Sou como os Plátanos!

– Onde estão os entes queridos

que acalentaram a minha infância triste?

Onde estão...?

Não vejo mais os Plátanos!

Eles foram derrubados...!

(Porto Alegre-RS, 1976)

Attilio dos Santos Oliveira
Enviado por Attilio dos Santos Oliveira em 16/04/2020
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