LEMBRO-ME DOS PLÁTANOS
E assim passavam as tardes
As velhas tardes da minha infância triste...
Tardes de inverno... de sol morno e pálido!
Tardes com cheiro de café novo
e fatias de pão com açúcar e ovo...
Tardes infantis de casarão vazio...
Vazio...! e eu só!
completamente só...
correndo pela casa com alegria tola
de criança mimada...
Tardes em que o vento uivava baixinho,
nos fios elétricos das ruas...
Tardes de árvores secas e esguias...
e cheiro de fogareiro “primus”
e cores de arco-íris...
Lembro-me dos Plátanos
Pobres Plátanos... solitários
nas ruas úmidas e frias...
Tardes de sonho
olhando com tristeza, na vidraça
os passarinhos piando na folhagem:
– Bem-te-vi! Bem-te-vi...!
Pobres avezinhas, no frio e na chuva fininha,
transidas de fome e susto...
Lembro-me dos Plátanos...
Pobres Plátanos!
Sou como as aves que voam
pelo mundo
buscando, buscando...
e penso e lembro e sonho...
Sou como os Plátanos!
– Onde estão os entes queridos
que acalentaram a minha infância triste?
Onde estão...?
Não vejo mais os Plátanos!
Eles foram derrubados...!
(Porto Alegre-RS, 1976)