A onda que me move

É madrugada e eu leio

versos escritos por mãos que nunca vi

para matar a saudade

de não sei bem o quê.

Na verdade, para matar

essa saudade besta de quem nunca verei,

ou mato,

ou ela me vence sorrindo, desdentada, amarelada,

e os dias ficam com um ar azedo,

e o cinza-azul do céu

fica mais sem graça do que o normal,

e as músicas da minha playlist

não fazem mais sentido,

e os reluzentes poemas seculares, consagrados

pela crítica e pelo público

não passam de peidos.

Leio tais versos como forma

de manter em mim

não sei lá o quê

de não sei onde.

Te leio

como forma de desejar-lhe boa noite, apesar de tudo.

Te leio como uma maneira de tocar levemente

teu rosto por mim desconhecido e de

sentir a brisa morna da tua respiração.

Te leio, debruçado em teu ventre imaginário

coberto por seus cabelos

da cor dos meus pensamentos.

Boa noite, boa noite, boa noite, querida.

Quanta melosidade, eu sei.

Me diga,

isso é desespero?

O Bêbado
Enviado por O Bêbado em 04/04/2020
Código do texto: T6906313
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.