A onda que me move
É madrugada e eu leio
versos escritos por mãos que nunca vi
para matar a saudade
de não sei bem o quê.
Na verdade, para matar
essa saudade besta de quem nunca verei,
ou mato,
ou ela me vence sorrindo, desdentada, amarelada,
e os dias ficam com um ar azedo,
e o cinza-azul do céu
fica mais sem graça do que o normal,
e as músicas da minha playlist
não fazem mais sentido,
e os reluzentes poemas seculares, consagrados
pela crítica e pelo público
não passam de peidos.
Leio tais versos como forma
de manter em mim
não sei lá o quê
de não sei onde.
Te leio
como forma de desejar-lhe boa noite, apesar de tudo.
Te leio como uma maneira de tocar levemente
teu rosto por mim desconhecido e de
sentir a brisa morna da tua respiração.
Te leio, debruçado em teu ventre imaginário
coberto por seus cabelos
da cor dos meus pensamentos.
Boa noite, boa noite, boa noite, querida.
Quanta melosidade, eu sei.
Me diga,
isso é desespero?