ALTIVA
Na frigida tarde de inverno cinzento
Um farrapo de nuvem caído no azul
Esse chão de damasco desfeito em paúl
Como pano molhado ou andrajo nojento
Seu vulto assomando por trás da vereda
Encobrindo desejos, despertando ciúmes,
Rebrilhante de luz e espargindo perfumes
Divinal visão com reflexos de Ieda...!
Foi passando por mim sem olhar-me sequer
Por sendas estreitas ou nesga sombria
A chorar e a sofrer com melancolia
Essa diva nereida em corpo de mulher!
E a noite já me envolve com manto severo
E a Lua desponta banhando de prata
O meu pensamento de saudade inata
Proscrito me sinto e atormentado espero...
(Rio Grande-RS, 1945)