transitório

o tempo não passa por aqui

resta congelado nas paredes,

nas vielas inclinadas

o tempo cristalizado

anda devagar, com a calma dos monges

o corpo se encolhe de frio

recolhe-se para dentro da alma

que fugidia ainda se esconde

do dia mal raiado de sol

as pernas doendo

me seguem em passos custosos e curtos

o caminho não acaba

o infinito é percorrido pelo frio

o tempo e o verbo não passam,

indefesa em meu silêncio

pondero valores inquestionáveis

o tempo e o vento contam histórias

de ritmo estranho e cadenciado

na batida dos relógios da igreja

nos gongos primitivos,

no tic-tac enlouquecedor

a marcar milimetricamente a morte

que possui hora e dia certo

possui lugar certo

e sobre ele colocam flores e

remorsos

as flores no frio possuem cor

mais vivaz

deve ser para compensar a solidão

do vento

o abandono do pólen

jogado

aos desvarios frígidos

de manhã sem sol

na chuva fina

milhões de gotas singelas

banham oceanos, praças, viadutos

e, deixam o chão ensaboado,

pistas escorregadias

onde a queda e a gravidade é

absolutamente natural

a atração de tudo

está no aconchego do interior

no calor interno da mão

que ainda há,

do corpo que ainda pulsa

embora encolhido

na dor que ainda permite ao

sobrevivente contar sua história.

a história é um registro de dores e

privações humanas,

as vezes apenas compensadas por

um futuro meramente promissor.

as vezes compensadas pela certeza

da transitoriedade.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/10/2007
Código do texto: T686861
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