Solitude

Eu não queria, mas é inevitável: De vez em quando, a contemplar a fumaça azulada do cigarro, penso no que fui há tempos idos e me estremeço com a ideia de não me sentir mais em paz consigo mesmo. E quando choro, as lágrimas ardem como brasas em minha fronte, que hoje me envergonha num espelho distorcido, cansado de mim.

A espera fico.... Aflito e só, imaginando a tua voz, terna e doce... Voz esta que agora se cala num silêncio sepulcral.... Sem resposta fico inerte. Reconheço que foi em vão todo o meu esforço e cautela, num mundo que agora para mim é impenetrável. Como posso eu, oh, senhor, viver de dor e sofrimentos tão insondáveis?! Por que condenar-me a uma perda tão cruel? Por que.... Logo eu, tão atormentado pelas coisas que eu não entendo. Por vezes penso e me perco em devaneios que nem eu mesmo sei a essência.

Inerte em meu castelo sombrio bebo um vinho amargo da taça que um dia eu sorvi com alegria. Pois hoje, sozinho, a não ser pela ignorância que me faz companhia juntamente com a cólera que me domina, olho ébrio pelas janelas quebradas de uma torre sem brilho, e vejo ao longe, num céu noturno, as coisas que eu jamais recuperarei em vida, pois, contudo, a paz e o silêncio que me rodeiam só fazem de mim a cada dia um ser mais fraco ainda, ínfimo ser, num mundo que já não me oferece mais nada, exceto a dor. Sonhando as estrelas que vi e as quimeras que varei.... Tão tristes quanto eu, absorvendo os defeitos que se expõem de meu coração aberto à espera do que lhe possa preencher, pelo menos provisoriamente, do que se precipita em mim; cego pela Luz que já não me conforta mais.

E é esta falta que me crucia, pois para mim é um castigo, que me persuade a tristeza de uma vida que agora me é vã, numa agonia que neste momento me domina em miséria e privação.... Sem a tua presença que eu tanto anseio. Pois quando chega a noite é que me dói mais.... Contemplar os astros. Na quietude dessa noite enésimas vezes te lembro e, num lampejo de lucidez vejo-me só, à mercê das estrelas dispersas na vastidão deste escuro céu que me inspira...

Desço pelas escadas em espiral da torre até o salão de entrada; uma vastidão de tapeçaria se estende pelo grande salão sob os móveis. Uma réstia de luz Lunar entra por um orifício na alvenaria já gasta e bate nos cristais do lustre no teto, dando a tudo um efeito mágico e onírico ao lugar... Mas sozinho porque deleitar-me se eu não te vejo mais, a não ser nas pinturas que eu te pintei com todo amor... Não sinto mais o corpo quente de minha amada em minha cama... Que agora, sendo profanada por vermes num cemitério moribundo, sob a terra num ataúde lacrado, já não sente mais nada.