Palavras ao vento
Odeio várias coisas e as que mais gosto já não tenho. Sempre a escrever nas horas mais mortas da madrugada, sedentário em meu quarto silente, a não ser o coração que bate oscilante em meu peito delirante, cheio de lembranças desfocadas permeando todos os aspectos de minha existência com um toque exótico de excentricidade... Nesse barco sem vela, a caminho da ruína iminente que me vem e abraça fortemente a minha ignorância de continuar. E quando choro é que me vejo pior em qualquer lugar.
Anos hão de se passar... Jamais hei de rever... Fraco de corpo e de espírito, abalado até pelo sono que agora ausenta-se de mim numa obscuridade crescente em meu coração cansado de bater em vão. Queria eu, acreditar que tudo isso é simetricamente perfeito.... Que o equilíbrio entre mim e eu mesmo ainda existe. Não posso. Tenho em meu peito solidão e dor, num estado em que já não me encontro mais, nem nas minhas lembranças mais ocultas. Perdendo por inteiro o autocontrole nesse eclipse total que se dissemina em minha mente.
Meu coração, antes impávido e elétrico, agora é lento e abatido, fraco e triste... Contudo a graça de viver já não me vem mais. E o sorriso que vós vedes não é de todo autêntico... Pois é aí que me dói mais.
Foram-se todos os meus sonhos, foram-se também todas minhas vitórias...
E a cada dia penso ser o fim, de tudo que me atormenta... Mas ao “fim” meu pesadelo nunca chega. Estou cansado da dor que sinto, é tudo que sinto, é tudo que sei.
E és tu a causa, de não existir mais em mim a alegria e, assim, ter de suportar esta dor latente que lentamente me tortura. Queria, eu não sentir nem ver o desequilíbrio em que vivo sem ti. Ah, se pudesses conhecer o mistério insondável em que agora me encontro. Ah se pudesses ver e sentir o que vejo e sinto...
... Sinto o amargo da solidão perpassar-me o peito. Vejo em meu reflexo, o rosto do arrependimento.... Sinto meu coração materializar-se integralmente em cinzas. Vejo-me relativamente perdido e só. Triste demais para chorar... Pelo que não mais existe.
Pois queria eu, beijar-te os lábios sem vida, segurando a tua mão imóvel e pálida, nas quimeras que tenho ao sonhar-te.... Mesmo que pálida, gélida e morta, em meus braços pela última vez.
Foram-se todos os meus sonhos, foram-se também todas minhas vitórias... E derrotas é só o que tenho agora.