POLICARPO

Foi-se embora a meninice de outrora

As brincadeiras de peão, o policia e ladrão.

O chamado de mainha pra comer “de capitão”

A peteca, o andar de rolimã sem hora.

Passar o dia na rua e chegar “sujo-imundo”

Subornando o vigia com um rum vagabundo

Jogar bola à tardinha no Paulo Ferraz

Pulando o muro do colégio da quadra de trás

Não sei se a vida era melhor naquele tempo

Só sei que o verde era mais verdejante

Os sabores mais intensos eram os de antes

Parece que os sentidos se gastam ao relento

Como um pavio que se esvai com a centelha

Parece que de tão sádicos se acostumam

Enrijecem, criam camadas patológicas.

Tudo, à intangível espera do obscuro por vir.

Não quero me acostumar com o encaliçamento

Quero o olhar de criança, a alma pueril do firmamento.

Prefiro contemplar o verde mesmo não tão verdejante

Ser a mão que leva o capitão à boca de meu rebento

Buscar sentimentos inexplorados, sem calos ou fistulas.

Sabores e cheiros não experimentados, cores não vistas.

Ter protagonismos diferentes, andar à toa por aí afora.

Ter olhar mente e alma de menino ainda no agora.

lino soares
Enviado por lino soares em 16/12/2019
Código do texto: T6820378
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