POLICARPO
Foi-se embora a meninice de outrora
As brincadeiras de peão, o policia e ladrão.
O chamado de mainha pra comer “de capitão”
A peteca, o andar de rolimã sem hora.
Passar o dia na rua e chegar “sujo-imundo”
Subornando o vigia com um rum vagabundo
Jogar bola à tardinha no Paulo Ferraz
Pulando o muro do colégio da quadra de trás
Não sei se a vida era melhor naquele tempo
Só sei que o verde era mais verdejante
Os sabores mais intensos eram os de antes
Parece que os sentidos se gastam ao relento
Como um pavio que se esvai com a centelha
Parece que de tão sádicos se acostumam
Enrijecem, criam camadas patológicas.
Tudo, à intangível espera do obscuro por vir.
Não quero me acostumar com o encaliçamento
Quero o olhar de criança, a alma pueril do firmamento.
Prefiro contemplar o verde mesmo não tão verdejante
Ser a mão que leva o capitão à boca de meu rebento
Buscar sentimentos inexplorados, sem calos ou fistulas.
Sabores e cheiros não experimentados, cores não vistas.
Ter protagonismos diferentes, andar à toa por aí afora.
Ter olhar mente e alma de menino ainda no agora.