Holodeck

Sua camisa preta sem estampa

Seus Jeans azuis que você não lava há um mês

Os 60 Kg de melodrama que preenchem seu pijama

O seu relógio de cânhamo chinês.

Lembra quando era legal conversar comigo?

Acho que já faz muito tempo dentro dessas semanas

Agora eu não passo de um mendigo

Esmolando centavos de atenção em meio a lama.

Uso tudo pra trocar por um sorriso

Ou por uma memória que nunca existiu

No holodeck nostálgico construo utópico paraíso

Que a realidade dos meus atos há muito obstruiu.

Tal como uma testemunha de jeová dedicada

Bato na sua porta, mas pra salvar minha própria alma

Toco a companhia, bato palma, mas nada

Você deve estar no banho, então o que resta é manter a calma.

A verdade é que você já ouviu o sermão, a pregação e a oração

Já foi na missa, já assistiu o culto e já fez a peregrinação

Já viveu tudo o que dava pra viver dentro dessa devoção

E a recompensa da entrega do seu espirito foi partir seu coração.

Eu mesmo duvido que ainda exista salvação

É que me sinto tão perdido que procuro o seu perdão.

Mas do que adianta se o diluvio já levou nossa capela?

Se a estrela guia se perdeu no céu cinza?

Se é a troca de turnos do anjo sentinela?

Se emudeceu nossa sacerdotisa profetisa?

Eu não tenho mais fé pra te dar

Sou grande demais pra enfiar num cesto e atirar ao rio

E você desistiu de rezar

Então me contento com esse silencio frio.

Estou procurando alguma reação

Usando essas metáforas de religião

Não sei lidar direito com essa solidão

Só vim pedir um pouquinho de atenção

Só um pouquinho de piedade

Uma meia reza sem pai nosso

Uma interpretação de felicidade

Rabisco de um versículo vosso.

Mas tudo bem, ninguém reza de verdade

Só pedem pra que algo melhore

É culpa, minha, sua e da cidade

Não temos tempo pra folclore.

Gabriell Araujo
Enviado por Gabriell Araujo em 26/11/2019
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