Holodeck
Sua camisa preta sem estampa
Seus Jeans azuis que você não lava há um mês
Os 60 Kg de melodrama que preenchem seu pijama
O seu relógio de cânhamo chinês.
Lembra quando era legal conversar comigo?
Acho que já faz muito tempo dentro dessas semanas
Agora eu não passo de um mendigo
Esmolando centavos de atenção em meio a lama.
Uso tudo pra trocar por um sorriso
Ou por uma memória que nunca existiu
No holodeck nostálgico construo utópico paraíso
Que a realidade dos meus atos há muito obstruiu.
Tal como uma testemunha de jeová dedicada
Bato na sua porta, mas pra salvar minha própria alma
Toco a companhia, bato palma, mas nada
Você deve estar no banho, então o que resta é manter a calma.
A verdade é que você já ouviu o sermão, a pregação e a oração
Já foi na missa, já assistiu o culto e já fez a peregrinação
Já viveu tudo o que dava pra viver dentro dessa devoção
E a recompensa da entrega do seu espirito foi partir seu coração.
Eu mesmo duvido que ainda exista salvação
É que me sinto tão perdido que procuro o seu perdão.
Mas do que adianta se o diluvio já levou nossa capela?
Se a estrela guia se perdeu no céu cinza?
Se é a troca de turnos do anjo sentinela?
Se emudeceu nossa sacerdotisa profetisa?
Eu não tenho mais fé pra te dar
Sou grande demais pra enfiar num cesto e atirar ao rio
E você desistiu de rezar
Então me contento com esse silencio frio.
Estou procurando alguma reação
Usando essas metáforas de religião
Não sei lidar direito com essa solidão
Só vim pedir um pouquinho de atenção
Só um pouquinho de piedade
Uma meia reza sem pai nosso
Uma interpretação de felicidade
Rabisco de um versículo vosso.
Mas tudo bem, ninguém reza de verdade
Só pedem pra que algo melhore
É culpa, minha, sua e da cidade
Não temos tempo pra folclore.