RESIGNAÇÃO

Em memória da minha mãe

Primavera, Primavera:

Tu que sempre me encantavas

que, com ansiedade,

eu sempre te aguardava...

de que adianta, para mim,

agora a tua chegada

se confinada sob tenebroso inverno

ficou minha alma?

De que adianta, para mim,

este lindo dia,

este céu azul,

este sol brilhante

se, para vivenciar, também, tudo isso,

não mais existe

aquela que fôra a pessoa

mais querida da minha vida?

De que adianta agora

o meu jardim todo florido

e com a presença destas belas flores

que sempre negavam em comparecer,

se não há mais aquele olhar,

se não há mais aquele sorriso,

se não há mais aquela terna presença?

Ao invés de consolo, ó Primavera,

tu cobres é de mais angústia

o meu coração.

Diga-me de que adianta

agora o meu viver,

se a melhor parte dele já se foi?

Como a árvore que no outono

perde as suas folhas,

o meu ser foi perdendo, também,

a sua alegria...

Todavia, não penses que estou

a desistir da vida,

não desistirei jamais, pelo contrário:

assim como faz a Natureza

que nunca se entrega

no mais causticante verão,

convivirei o máximo que poder

com o que me restou,

ou seja, com esta saudade

pois, já que é impossível

retornar no tempo,

prefiro que esta dolorida,

mas saudosa lembrança, permaneça.

Permaneça - ainda que seja

a causadora de todo este padecimento -

e neste sofrido coração

possa perdurar, ó Primavera,

até

a tua derradeira visita.