OITICICA
Francisco Alber Liberato
Quantas vezes teus galhos nos abraçaram
Quantas vezes nossos sonhos acalentaram
Quantas vezes tuas folhas nos acariciaram
Quantas vezes brincamos à tua sombra
À tua sombra o operário da lavoura repousou
À tua sombra ele fez planos
À tua sombra ele sonhou com a mulher que amou
À tua sombra ele chorou o leite das crianças
À tua sombra jogamos futebol
À tua sombra cacimbas matavam nossa sede
À tua sombra colhemos o teu fruto
À tua sombra lavamos muita roupa suja
Debaixo te ti eu briguei com a Franci
O meu pedido de desculpa deixo aqui
Quarenta anos depois
Árvore opulenta
Fizeste tudo isso sem pensar em nada
Seringueira do sertão
Pobre homem que de tudo se vã gloria
A única coisa que fez
Foi deitar-te no chão
Sem peso na consciência
Tu que eras exuberante de pé
Pé de oiticica centenário.