Lembranças Vívidas e Esperançosas
Meus irmãos estão no indolor paraíso,
Eles se decompõem no silêncio de cada jazigo,
Eles sorriem cheios de vida,
Mas a partida de meus irmãos nos legou incuráveis feridas.
Quando eu era criança,
Márcio e Sheila eram repletos de risos e de esperanças.
Hoje a ausência sepulcral de meus irmãos
São esses gritos que me acordam em prantos;
e eu rezo e oro, mas o silêncio deles é esse infame canto
Que me desperta com fé e com angústias e espantos,
Pois na morte só há oásis: a vida é uma verdade de desencantos.
Meus irmãos mortos brincam de amarelinha na calçada,
Eles estão felizes sem nem saber o porquê de nada;
E as pessoas seguem essas vidas cristãs e apressadas,
E meu pai e minha mãe choram sem cessar nessa moradia terrena
Onde a saudade e as tristezas são chagas indescritíveis e plenas.
Meu irmão sorri e nos olha com lágrimas saudosas,
Minha irmã pranteia no céu, pois somos carnes desastrosas;
Meu irmão e minha irmã caminham perto do leito do belo riacho
Onde depositávamos nossas purezas e infâncias alegres e ruidosas
Ao pé das raízes de nossas vidas simples, pueris e majestosas,
No quintal onde ecoam as vozes ainda tão recentes e vívidas
Das almas sonhadoras, risonhas e perpetuamente “partidas”
a que toda vida está condenada nessa ponte medonha e definitiva.
Eu vos amo com o meu amor imperfeito,
Eu vos amarei sempre com este meu pecador coração;
A morte é um ultraje celestial cheio de defeitos,
A morte é um pretérito real com seus rebanhos eleitos.
Todos acham que sabem para onde vão,
Todos evitam confrontar a realidade da vida,
Eu posso até me enganar, meus irmãos,
Contudo eu sinto que o amor busca remediar
Toda dor, sofrimento, angústia e desespero
Que a morte em si mesma não consegue apaziguar.
Há o silêncio de tua voz, minha linda irmã;
Há a ausência do teu sorriso, meu vívido irmão;
E havia (e há) a triste realidade em cada caixão,
Todavia o nosso amor por vocês vai além da humana compreensão.
Queria tanto abraçá-los agora,
eu queria tanto vê-los passar por essa mera porta,
eu queria tanto que tudo tivesse sido diferente,
dizem que o nosso futuro a Deus pertence,
mas eu os quero é aqui: conosco e rindo com a gente;
Queria tanto sentir o pulsar de vossos corações
Neste instante, nesse momento, nesta hora de desolação;
Quando eu era uma casta e ingênua criança,
Havia, em meus irmãos vivos,
Oceanos de brincadeiras, fé, tombos e esperanças.
Havia diálogos, risos, filhos, mãe, pai...
Havia aniversários que transbordavam alegrias e paz;
Havia tardes e momentos que não retornam mais;
Havia a vida de meus dois irmãos que não voltarão jamais!
Continuem a sorrir e a brincar de amarelinha sem receios,
Joguem pedrinhas no riacho com alguns devaneios,
Corram felizes pela imensidão dos campos de centeio,
Vocês dois estão livres de todo sofrimento e vis anseios.
E Jesus me olhou com lágrimas e pesar,
E o Espírito Santo tentou me confortar,
Mas Deus sabe o quanto é doloroso amar,
Deus tocou em meu ombro e me segredou:
_ Filho, chore, chore com todas as tuas forças,
Não temas o que a vida te aniquilou.
E chorei todas as lágrimas que gritavam dentro de mim.
Gilliard Alves
Acaraú, 29 de agosto de 2019.
18:51 da noite.