LUGAR SEGURO
LUGAR SEGURO
Francisco Alber Liberato
Da minha vó Luzia guardei
Os melhores dias da infância
Dentro da cristaleira encontrei
Sonhos e esperança
Bons invernos juntos passamos
Eu, a Dona Luzia, o sertão,
Os bichos e tudo aquilo que amamos
Na casa da minha vó
Eu tinha certeza
Meu pai não ia bater na minha mãe
Na casa da minha vó
Eu tinha certeza
Não faltava café com farinha
Não faltava esperança
Não faltava respeito
Conversávamos muito
Lá não tinham as letras
Mas havia educação
Muita coisa boa que aprendi
Devo a minha vó analfabeta
Da última tramela de madeira lembrei
Ficou no passado a segurança
Pernas passeavam na madrugada escura
Ninguém morria por causa de um tênis
Estradas poeirentas, mentes pueris
Vozes andavam noite a dentro
Ninguém tinha medo do escuro
Como era seguro o casebre da minha vó.
Este texto foi publicado no livro - queimaduras de terceiro grau.