Tudo foi nosso (Uma avassaladora saudade)
C.L.S.S., 2012-2017
Você é como o mais puro vinho, de uvas das mais delicadas.
Sentindo a pressão dos momentos, vivenciando o sofrimento;
da minha parte - disso, jamais me orgulhei: sim, muito contribuí.
Era quase imperceptível ao toque, como cachos de uvas manuseadas
com completa atenção.
Você foi marcante, vigorosa, dentro de mim,
como o saborear de um fino Merlot. Chocando meu paladar para o prazer aterrissado em meu confesso coração.
Não, você não está raciocinando comigo. Sei que não está aqui. Não estará. Quisera eu, mas, o que eu poderia?
Nem mesmo eu me escolheria.
Pois, é de você, é sua a conquista da escolha. Duma vez, fomos separados. Rumos outros foram traçados.
Assim como uma vez, na vida, fomos unidos e para valer.
Mas, de tudo aquilo que recordo, no respirar de um completo momento,
num misto de feliz assombro, de triste e sutil segundo,
numa avalassadora saudade,
é seu olhar de potência, límpido, vigoroso, puro, despido e intenso.
Ali, naquela sutil e atemporal experiência existencial,
vi mais claramente a pureza e a intimidade da alma dessa bela mulher,
uma completa e sublime essência, como jamais antes percebi.
Não. Eu lembro, eu sei: não sou e nunca fui digno - é um consenso -
sequer de esquentar suas mãos com as minhas,
sequer de olhar para você se você não me permitisse.
Ao me trair, causei toda a dor, e mesmo sem mais ninguém, bastou
a mim mesmo, a tudo, silenciar
- sempre como menino, que não soube lidar
com a mulher que você é/foi/será perpetuamente.
Sim. Eu, imaturo, sem saber escolher
nem antes, nem agora, cada uma das minhas
escolhas que, se minha vida aquiescesse,
eliminaria algum "e se não?"
que, volta e meia, é isso mesmo. Foi o que restou.
Eu falo sério... mas, talvez sejam palavras que nunca te encontrarão.
Assim como aquele olhar... nunca mais mais algum outro sutil segundo.
Porque, assim como o fino vinho não retorna ao belo ornamento onde incorporado descansa, só me resta conservar você, até o fim da escala temporal,
com o máximo da pureza - não consigo ir além do mais sofrível
silêncio...
Conviver assim, comigo mesmo? É.
Na vida, muitas vezes é compatível,
com a dor e o destroço,
a esperança - na manga, um persistente ás -
para que nos confronte
com a realidade de momentos
que tornam a saudade... inevitável.
Não vou rimar <<saudade>>, aliás!
Quero combinar com o silêncio...
Só resta isso. Não está tudo bem, mas, as coisas são assim. É o que é.
Que silêncio, que ausência! Para mim, mais insuportável
do que, de uma vez, eu venha a desvanecer e morrer.
Mas dizem - como sempre - que a vida deve proceder.
"As coisas são assim".
Antes de seguir, então: se você ler e terminar a dor escrita, que te encontre
o meu abraço em seus pensamentos,
pois, toda aquela química, pressão, aromas e olfatos, tudo foi nosso - naquele abraço. Dali, também não consigo mais não pensar na mulher
que permanece em recônditos celestialmente púrpuras/lilás
- aquele nosso céu de paredes roxas - lá no fundo do meu coração.
E, fico assim, na sua ausência inevitável,
ao recordar seu puro olhar, a mim, sorrindo...