Choro Mineiro

A única coisa que fala comigo dentro do meu amor de menino,

Que de modo ínfimo sobrou para contar,

Deixa meus finos traços de carinho,

Podendo encher de água o olho por lembrar,

Minha terra Norte Mineira,

Que grita e esperneia,

Meus Montes Claros todinho nosso,

Mas quem sobrou fui eu.

Da minha casa cheia,

Parecendo Santa Ceia,

Naquela mesa de vidro e madeira,

Cada um em sua cabeceira.

Se as roupas acabam e a carne também,

A mim, me sobra quem?

Qual o alcance dessas palavras a alguém?

Será se sou só transeunte do além?

Vejo fotos antigas,

Móveis por encomenda,

Velhas cantigas,

Noite serena,

A lamúria é rotineira,

De saudade costumeira,

A dor é inevitável,

O sofrimento opcional,

Mas causa falta tão afável,

Que deixa essa pedra toda sentimental.

Olho para o sapato de sola gasta,

Andando por toda praça,

Para ir a cartório e tabelionato,

Andarilho nato,

Que cansa todo e qualquer calçado.

Mas os calos e cicatrizes não são familiares,

Pois todo homem tem que trabalhar,

Para ser digno e digno do que faz,

Se não for eu por mim mesmo, quem me traz?

Quando chego em casa,

Nessa residência verde limão,

Já vou à caça,

Entrando logo de supetão.

Mas chego nesta sala,

Lembro-me que não virão os tempos puídos,

Tanto barulho que o silêncio cala,

Pois são laços ruídos.

Eu vejo essas fotos na gaveta do criado mudo,

Que parece minha atitude quando as senhoras e senhoras partiram,

Mas eu não me acudo,

Pois me sinto sortudo por compartilhar tais sangues.

Mas na hora que vejo eu e mãe minha,

Daquela velha casinha,

No dia que briguei com minha madrinha,

Eu capoto o corsa de emoções.

Comemo muito e falamo muito palavrão,

Vivia num matriarcado,

Se falasse que o homem era chefão,

Tava mais era lascado!

Oh minha mãe mineira,

Que saudade da comida caseira,

De te ver bordando na cadeira,

Que reclama do meu móvel cheio de poeira.

Sentimento de mãe é sentir saudade de ventre,

Querer ficar aconchegado adentro para sempre,

Mesmo que a mãe que digo não me tenha parido,

Mas me fez excelentíssimo partido.

E vinha minha mãe com sua hipocrisia,

Chamar pão de quejo de “barriga vazia”,

Ora quem diria,

Que dessa barriga me deixaste de pochete.

Tu és meu eterno Metiolate,

Remédio que arde de verdade,

Mas cura em cicatriz saudável,

É de tudo meu sentimento memorável.

Oh meu pai,

Tempo que corre e se esvai,

Me segura quando cai,

Que saudade que não vai.

Aquele homem sério, mas de coração amanteigado,

Que esperava chegar quando o dia havia se acabado,

Quanta saudade eu deixei de falar ao senhor,

E quantas vezes escondi todo o meu amor.

Guardei para mim enquanto não tivesse tua resposta,

Mas eu sempre fiz uma amarga aposta,

Que das tuas palavras que me faltavam,

Conseguia com minhas atitudes que atentavam,

O tempo passa e eu cresci,

E nessa aposta eu perdi,

Porque para demonstrar o quanto lhe amei de verdade,

Só faltava um pouquinho de sinceridade.

Homem que não demonstra nada que venha de si,

Precisava de uma piada infame para rí,

Continha sua emoção com o choro do sertanejo,

E de todo esse sonho eu pestanejo.

Oh pai meu e mãe minha,

Se todo silêncio fosse amor procês,

Eu seria de fato,

O mió amor em mímico francês.

Parece tristeza em sanfona do sertão,

Que chora por esse carinho de antemão,

Nesse norte é diferente do Nordeste,

De tamanha é a falta que sempre me fizeste.

Mar que saudade em turbilhão uai!

Ter alguém pra chamar de mãe e pai,

Acontece que sempre serão meu trêm bão,

E holofotes da minha eterna canção.

É terra que não molha a não ser com lagrima,

Tudo que digo parece lástima,

De todo tempo que eu perdi ou deixei de aproveitar,

É esperar a água estando com as pernas no mar.

Areais que no soprar passáro igual poeira sem asfalto,

Esfreguei os olhos meus,

E num salto,

Já não vinha os seus.

Agora volto todo dia para a casa verde limão,

Procurando os vestígios dessa união,

Mas me encontro desaforado,

Pois não ouço a voz dos meus amados.

Acabou que vivo na minha terra,

Nesse divino voto de Minerva,

Continuo na minha terra natal,

Mas minha terra natal fora embora no final.

São tantas as amarguras,

Faltas tuas,

Aturas-me a si só,

Pois só me sobrou o pó,

Pó de casa abandonada,

Que de meus pais não sobrara nada.

Montes Claros - Minas Gerais,

Minha terra e do amor pelos meus pais,

Não vos esqueço de nunca mais,

Mesmo que a saudade sufoque o peito.

Proclamo meu eterno choro Mineiro,

Pareço um quejo curado inteiro,

Porque prisioneiro de mim mesmo,

Sou do meu coração eterno cativeiro.

É o choro da saudade de um filho que não soube aproveitar,

Que brigava e chegava arrebentado,

Mas tinha sempre um lar,

Pra sorrir e pra chorar,

Pra entristecer e alegrar,

Pra aquecer,

Para voltar.

Que saudade me dexaro,

“Meus véio amado!”

Com carinho a Fátima e Vanjosé.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 15/08/2019
Reeditado em 15/08/2019
Código do texto: T6721073
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