METAMORFOSE
Há uma mesa no centro da sala,
Sobre ela, um retrato em branco e preto,
Vigia o recinto abandonado,
Na penumbra.
Os olhos profundos penetram o íntimo
de todas as coisas.
Sobre o teclado do piano,
Ante aquele olhar inquiridor,
Chopin fechou sua “ Tristesse ”
E, adormeceu sua dor.
Na jarra de porcelana branca,
Há cravos que já foram vermelhos.
E, na parede pálida, outro retrato,
Refletido no espelho,
Ouve o silêncio que mórbido circula.
O retrato sobre a mesa olha complacente
Para o retrato do espelho.
É o mesmo retrato em tempos diferentes.