FAUNA DOS SONHOS
O tempo levou-me os sonhos,
Tantas esperanças,
Retratados em desejos mil,
Na fértil imaginação de criança.
Como era feliz e não sabia!
Sem máscaras, sem disfarces...
Apenas eu mesma: sorriso escancarado,
Correndo ao vento,
Aos píncaros dos folguedos do meu tempo.
No céu talhado de nuvens, bordava as fantasias
Com os flocos dançarinos de algodão.
E as mágicas aconteciam,
Em carruagens, reis e rainhas,
Príncipes e lagos encantados.
Foram-se os anos, tão rápidos, tão velozes,
Até que me descobri adulta.
Vi, com tristeza, que o sol radiante
Havia mutilado as nuvens,
Os flocos de espuma, a fauna de sonhos,
Esconderijo dos meus desejos.
Em troca, restaram-me meras coisas,
Sem formas, vazias,
Dispersas em fumaça, em dores,
Que poluíram o azul de minha vida.
O horizonte, nem sei se existe mais.
Quisera ter impedido o sopro do vento.
Quisera ter retido as nuvens do meu tempo.