BERRANTE BERRANDO ESTOU AQUI
De repente chega uma saudade
daquela voz, daquele corpo, daquela vida.
Saudade difusa, meio desgastada pelo tempo,
meio maltratada por lembranças que teimam
em não ir embora de vez.
Uma saudade que pinica, que perturba, que dói,
como uma sineta orquestrando de longe,
como berrante berrando estou aqui.
Sei que essa saudade vai minguando aos poucos,
sei que vai escorrer pelos boeiros do tempo.
Saudade que tonteia, que confunde o coração,
que deixa a alma triste como nunca ficou.
Saudade de um filho que perdeu sua fonte,
que nunca mais sentirá seu cheiro,
que nunca mais vai beijá-la com carinho.
Saudade malvada, traiçoeira, vil,
impregnada de histórias, de feitos, de tantas coisas,
mas também repleta de coisas doidas demais
pra serem esquecidas de vez.
Escrever me ajuda a deixar essa saudade menos tirana,
porque, de algum jeito, a está trazendo pra perto de mim.
Como uma inspiração que me toma por inteiro,
que me põe no colo, me faz ninar, me ensina, me conduz,
me acolhe, me abençoa, me amamenta, me afaga,
me dá à luz.
Obrigado, mamãe.
Por vir desse jeito pra perto de mim.