Roda Gigante.

Até onde alcança a minha visão

Pra dentro do coração

Pra além de onde enxerga a vista

Onde estão as pistas deixadas

Há momentos em que correm os ventos

Num torque que não resta nada

E é hora do ataque, do desembarque

Um dia o parque da nossa infância

Regressa pra vila onde a gente brincava

E novamente há meu nome no muro

Na mais pura escuridão

Que o tempo distante

Demonstra um talento inato

Quando o rabisca

Num autêntico nunca mais

Um sapato que machuca os pés

A saudade curiosa

Daquela fotografia que só se viu uma vez

O passo impreciso

De quem precisa aprender a andar

Era um azul de mês de setembro

Em cada lugar era um nome

Aquela rua, que era tão bonita

Mal iluminada e triste agora

A vida insiste, irredutível

Passei por lá noutros tempos

Ela estava pintada de abril

Nada mais que a bela e triste poesia

Que não podia ser recitada

Era assim que a gente obedecia

Pois nada nunca foi

Mais decidida que a própria vida

Uma conquista a mais

Outra alegria abrandada

Outra risada perdida

Escondida em algum lugar, lá dentro do coração

E que a vista faz questão

De pra sempre esquecê-la

E chega mesmo a duvidar que foi de verdade

Mas que a gente se lembra de vez em quando.

Edson Ricardo Paiva.