Um coração cheio de ontens
Escrevo novos versos
Em um coração cheio de ontens.
A sala é grande assim como o vazio em meus olhos.
Pego alguns cadernos já amarelados pelo tempo e tento escrever uma nova história.
É final de verão e o coração precisa ser acolhido.
Lá fora o sol brilha, enquanto aqui dentro o frio percorre todas as minhas veias.
Meus lábios estão roxos e secos e não foi eu que os pintei desta cor.
Era tudo muito vivo e quente até você...
Já não me cabe mais lamentar o passou.
O futuro me espera logo ali, eu o avistei várias vezes. Era cheio de esperança e tinha um gostinho de quero mais.
Visto o casaco e tento me aquecer neste gelo que se instalou aqui.
Pego uma xícara de café e seguro firme, a sensação de calor nas mãos trouxe-me um momento, um fôlego.
Meus dedos tentam compor um novo capítulo mas, eles começaram pelo lamento, falando dos olhos que um dia brilharam.
O coração permaneceu ali quietinho, encolhido no canto onde fora jogado. Ele se debruçou com o medo e a dor. Parou de bater quando começou a apanhar.
O espelho empoeirado na sala mostrou-me o reflexo de um ser irreconhecível.
E foi difícil encarar a poeira de minh'alma. Mas, era preciso.
Foi uma eternidade de lamentos.
Olho a olho eu e o espelho. As lágrimas saíam como quem implorasse por liberdade enquanto queimava-me a face e temperava minha boca.
O sal do momento abraçou-se com a saudade. Confesso que não foi bom relembrar mas, as vezes é preciso voltar aonde parou.
O tic tac do relógio parecia acompanhar o ritmo do meu coração.
Passei a mão no rosto como quem quisesse arrancar toda dor.
O sol continuava brilhando lá fora e eu entendi que não poderia fazer nada pelas folhas amareladas, o tempo delas passou, assim como tudo que ficou lá trás.
Lavei o rosto, passei um batom nos lábios para disfarçar o silêncio que gritou comigo todo esse tempo.
Passei um pano no espelho e contornei com o lápis todo labirinto dos meus olhos, dei uns tapinhas no rosto para mostrar-me que a vida ainda caminhava aqui fora.
Peguei uma pedrinha de gelo, coloquei na palma da mão e pude observar que tudo dependia do tempo.
O gelo por fim derreteu e o liquido esquentou.
E foi assim que aprendi a nunca mais secar as minhas lágrimas.
Cristina Rodrigues
07/04/2019 às 09:36