Vai doer
O que me vai doer
De certo é a lucidez
A falta da loucura a dois
A noção de que partir é morrer
Diante dum fogo que não esgotou sua vez
E dessa saudade em rouca voz
Vai doer também a retidão
Essa rotina que deleguei aos desamados
Aos que jamais foram domados pela polpa
Vai doer apenas ser paixão
Quando distantes não há beijos dados
E que se lixe a culpa
Mas o pior de tudo
É o tempo se encravar na demora
É o corpo tinir embriagado de memorias
Sedento de voltar a ser teu mundo
Sedento de voltar a acalmar esse prazer que só chora
De quando meu corpo se entregava a tuas vitorias
O que vai doer
É adormecer sem o gemido com teu sotaque
Esses riscos de unha que me punham à tona
É não me chamares e eu vir a correr
Pra ser mártir em seu aleoado toque
Pra ser a entrega que te faz minha dona.