A corda da Saudade

- Adeus!

Disse ele já com a corda reta.

Lágrimas nos olhos de saudade

Pois por mais que a maturidade,

Induz-te a coisa certa,

A corda quando aperta.

Leva tudo que é idade.

Ancião, velho, experiente...

Botam-me nomes essa gente.

Mas os nomes que eu queria,

Felicidade, risos, alegria...

Que preciso todo dia

Tiram de mim tal qual um doente.

A saudade me aperta,

Mais até que acorda reta,

Se o tempo voltasse um pouco,

Viveria até tudo de novo,

Mas minha mente e meu corpo.

Eu teria mais carinho,

Não viveria tão sozinho,

Distribuiria mais perdões

Não viveria de ilusões.

Menos “não”, muito mais “sim”.

Mas não há o que ser feito

Com saudade no meu peito.

A não ser buscar um fim.

- Vovô que brincadeira é essa?

- Amarra-me tambem?

- Na escola contei do senhor.

- Pois só falamos de amor.

- Falei da roda do carrinho,

- Que o senhor fez direitinho,

- No dia que eu quebrei.

- Falei do macarrão com carne dentro,

- Que nem estava tão gostoso.

- Mas foi a primeira vez que mexi no fogo

- Por isso que amei.

- Falei do seu cabelo branco

- Das velas junto aos santos

- Das músicas, do seu canto.

- Que na hora de contar,

- O que quero ser quando crescer

- Disse: quero ser tal qual meu avô

- Até o dia de morrer.

Tirou a corda do pescoço

Envergonhado, mas contente.

Sentiu-se até um pouco mais moço,

Fez um sorriso novamente.

Hoje no tronco do cajueiro.

Onde tinha a corda da saudade

Tem um balanço o dia inteiro.

Pode vir, não tem idade.

E sempre que a saudade bate.

Pois de fato sempre vem.

Balanço-me até mais tarde.

Voo mais alto que a minha idade.

No meu balanço vai e vem.

Poeta no Fusca
Enviado por Poeta no Fusca em 08/03/2019
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