À BAILARINA

Não esqueço daquela noite

Tu estática, debaixo daquela lâmpada,

Ofuscada pelo teu brilho de criança

E sensualidade de se fazer mulher.

Vejo no collant ainda a lembrança

De sua última dança, mansa

Que me abraça, e me balança

E segue a coreografia.

Te puxo e lhe desfio

E nos perdemos em ambiente mórbido

De noites tão frias.

Envolvo-te nos braços, como a última toada

Para que o balé, dê lugar à valsa

[dos corações.

Lembras-te das horas que transmutavam em minutos?

E do coral de anjos que tocavam harpas douradas?

Aí, minha memória fotográfica...

Aí, saudade que maltrata!

Onde anda você,

Ando mais triste que a poesia de Cartola,

Não vejo mais anjos, nem harpas, nem teu coque de bailarina

Só há a tristeza... que some por um tempo, e me afunda em agonia