PRETINHO, O PÁSSARO PRETO
Voa, pássaro preto!
Já que não tem mais comida.
Gasta o seu resto de vida
Cantando a flor no coreto.
Mas antes, dá-me a cabeça
Pra que eu faça-te carinho.
Posso esquecer-te sozinho,
Mas, não... não desapareça!
Vai, avoa, pretinho!
A gaiola tá aberta!
A casa fica deserta
Quando negas o teu ninho.
Nunca tardou retornar
Das idas até o quintal.
Será por bem ou por mal
A jaula a te cercear?
Amado pretinho, voa!
Enquanto as asas funcionam;
Enquanto os que o aprisionam
Gastam sorrisos à toa.
Sete, contando comigo,
São culpados do abandono.
Um pássaro não tem donos,
Deveria ter amigos.
Vontade dá de escrever-te
Outro destino diferente:
Gorgeando no infinito,
Não prisioneiro de gente;
Em que voasses, pretinho,
Sem carecer do meu crivo.
E que, quando eu retornasse,
Inda te encontrasse vivo.