Corre menina...
Ah! Chegou o tempo das jabuticabas.
Corre, corre menina senão tu te acabas
e já não provarás de seu doce mel...
Não lerás a poesia dos negros poás
bordejando os caules dos novembros de lá.
Corre menina. O tempo é um carrossel
e vai passando pelo rústico quintal,
despindo a jabuticabeira da veste nupcial.
Seu talhe agora já oferece o doce fruto
na transparência do penhoar verde-claro.
A fertilidade ali aflorada no ritual já tão raro...
Ah! Menina, menina, o tempo é tão astuto!
Ele passa por memórias plantadas. Ah! Passa...
Passa pela epifânia dos risos, mas logo grassa
ramificando saudades e lembranças tantas.
Por isso, corre menina, senão te arrependes
de não sentir o cheiro antigo... Não entendes?
Pois te digo: corre e adoce tua garganta...
Pois não há entre nenhum outro desse fruto
que de meninas revolve passados tão brutos!
Veja as recordações pelo quintal mumificadas,
esperando-te nas quentes manhãs de primavera
para estalar em tua boca qual néctar de quimera.
Corre menina. Recorde-as tão leves e açucaradas!
PS : poema criado hoje. As imagens são da roça de meu pai e as cliquei em 19 de novembro de 2017 e fiz a montagem. O poema é um lamento na verdade, porque esse ano as jabuticabas amadureceram mais cedo e não fui lá. Pretendia ir semana passada, mas não deu certo e só irei em novembro. Portanto quando for já verei essas lindezas e gostosuras. Felizmente meu querido papai trouxe para nós esse fim de semana.