LÁGRIMA DE CERA

Minha fé apenas foi mais um daqueles círios

Que minha mãe acendia à sombra de uma cruz: -

O pé assentado sobre a terra áspera e bruta;

A tênue luz, na outra ponta, ao alto, voltada para os céus...

Círios que, à instante insinuação dos ventos,

Estavam o tempo todo a vacilar,

Lutando por manter acesas as suas chamas

E enquanto, aos poucos, consumiam-se a chorar

Candentes lágrimas de cera que escorriam

De alto a baixo a queimar-lhes os corpos nus,

Iam ficando, sem querer, inexoravelmente,

Cada vez mais longe dos céus,

Cada vez mais perto da terra.

E por fim, quando já tudo se havia consumido,

Extinguiam-se afogados em suas próprias lágrimas

Que jaziam, como um coágulo, ao chão,

Endureciam-se,

Esfriavam-se

E aderiam-se à terra para sempre,

Como uma mão crispada.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 29/10/2018
Reeditado em 08/11/2020
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