LÁGRIMA DE CERA
Minha fé apenas foi mais um daqueles círios
Que minha mãe acendia à sombra de uma cruz: -
O pé assentado sobre a terra áspera e bruta;
A tênue luz, na outra ponta, ao alto, voltada para os céus...
Círios que, à instante insinuação dos ventos,
Estavam o tempo todo a vacilar,
Lutando por manter acesas as suas chamas
E enquanto, aos poucos, consumiam-se a chorar
Candentes lágrimas de cera que escorriam
De alto a baixo a queimar-lhes os corpos nus,
Iam ficando, sem querer, inexoravelmente,
Cada vez mais longe dos céus,
Cada vez mais perto da terra.
E por fim, quando já tudo se havia consumido,
Extinguiam-se afogados em suas próprias lágrimas
Que jaziam, como um coágulo, ao chão,
Endureciam-se,
Esfriavam-se
E aderiam-se à terra para sempre,
Como uma mão crispada.