AÇUDE ALADO

Saudade é açude que arde,

é voz que encarde,

é punhal que não dorme.

Sua alma é ferina, açude alado.

seu sangue jorra machucado,

sua cor é cinza e azeda.

Saudade é pasto imenso,

vendaval que sai das bocas de Deus,

é enxame de dor sem alforria.

Seus gritos são infinitos, são anônimos,

seu choro faz o tempo perder o rumo,

seu sumo dilacera todas melodias do coração.

Saudade é fogaréu pantanoso,

embriaga a fé com todas suas armadilhas,

é alcapão, é arpão, é cadafalso.

Quando chega, faz o mundo engasgar até morrer,

quando entorna, faz os ossos estrebucharem sua alegria,

quando goza, faz a paixão desparafusar todas suas faces,

todos seus fôlegos, todos seus festins.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 11/09/2018
Código do texto: T6446062
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