AÇUDE ALADO
Saudade é açude que arde,
é voz que encarde,
é punhal que não dorme.
Sua alma é ferina, açude alado.
seu sangue jorra machucado,
sua cor é cinza e azeda.
Saudade é pasto imenso,
vendaval que sai das bocas de Deus,
é enxame de dor sem alforria.
Seus gritos são infinitos, são anônimos,
seu choro faz o tempo perder o rumo,
seu sumo dilacera todas melodias do coração.
Saudade é fogaréu pantanoso,
embriaga a fé com todas suas armadilhas,
é alcapão, é arpão, é cadafalso.
Quando chega, faz o mundo engasgar até morrer,
quando entorna, faz os ossos estrebucharem sua alegria,
quando goza, faz a paixão desparafusar todas suas faces,
todos seus fôlegos, todos seus festins.